Mês: janeiro 2014

Esquecimento e linguagem: Mentonímia e Metáforas

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Vimos no post anterior, a forma como Saussure e Lacan trabalharam a interelação entre significante e significado. Vamos agora ver a relação do trabalho de Laca com Jackobson e a sua relação com a questão do esquecimento em Freud e Jung

Jakobson,  Lacan e  e esquecimento

Lacan, aproxima-se da teoria da poética de Romam Jakobson na apropriação das funções da linguagem. Na linguagem há os elementos de comunicação: emissor e  o receptor como interlocutores, a mensagem; o cana, o referente ou contexto (situação ou objeto referido) , e o código (conjunto de regras de combinação de signos utilizado onde o emissor codifica aquilo que o receptor irá decodificar, e as Funções da Linguagem. Função  Emotiva (o que se destaca do emissor ao nível de emoções, sentimentos), a função referencial ( referente ao objeto de que se trata), a função apelativa (centrada no repetor para o influenciar ou presuadair), a função física (que evidencia o suporte da comunicação, ou canal) e que é importante para os interlocutores aferirem os refrenciais, a função poética (que se centra na essência mensagem, na sua estrutura, ritmos, harmonia), e a função matalinguística (que se relaciona com a formalidade da mensagem)

Ora estas funções da linguagem relacionam-se entre si como combinações ou como substituições. Quando se combinam, desenvolvem processos de metonímia, quando substituem desenvolvem processos metafóricos. é possível encontrar entre estes eixos uma correspondência ao deslocamento e à condensação de Freud

Assim, as teorias da comunicação e da psicanálise podem aproximar-se: 

Em Jakobson encontramos a definição de dois eixos da linguagem que se articulam na tensão entre dois polos: o metonímico (combinação/ contexto) e o metafórico (seleção/ substituição/ similaridade). 

Na metonímia gera-se combinação das unidades linguísticas em processos ascendentes. Através delas gera-se um contexto. No nidade de sentido, formam enunciados logicos. A metonímia é linear, ligando-se por continuidade gerando o contexto. Cada palavra ganha significado pela sua posição no conjunto, em função da que antecede e da que lhe sucede. A sonoridade da frase vais fornecer a significação, e pontuação fixa o sentido preciso do enunciado. Individualmente o significado duma palavra flutua, apenas se fixando no contexto. Há nesse flutuar uma resistência e uma sonoridade que lhe escapa, e que apenas é capturada no contexto. Neste primeiro pólo de metonímia, a combinação linerar estrutura as significações entre cada fonéma.

Na metáfora, um segundo polo do eixo da linguagem, é processada a selecção do código. Entre as diferentes possibilidades os são escolhidos os fonemas, de acordo com o contexto e a circunstância do enunciado. Os dois polos interagem e constituem a lei de funcionamento da linguagem.

Poderemos correlacoina-los para a formação do inconsciente e esquecimento (deslocamento e condensação) de Freud. Se a metonímia funciona como articulação entre significantes por continuidade, associando ao esquecimento freudiando como informação que flutua nas ligações neuronais; e a metáfora processa a substituição, associando á consensação de Freud, estamos perante um correlação entre a comunicação e o esquecimento.

Linguagem, comunicação e esquecimento

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A Propósito da questão do esquecimento, que trabalhamos no Post anterior, onde a partir da proposta de Freud e Jung procuramos delimitar o campo do esquecimento como um espaço de rememoração, vejamos agora essa articulação na Teoria da Literatura

Em torno de Saussure e Lacan

A proposta de Saussure sobre o signo linguístico distingue o significante e o significado. O som duma palavra, é um significante. Uma forma que permite a sua identificação. O seu significado é a ideia que ele transmite. No processo de comunicação a relação entre significante e significado não é uma relação natural, mas uma relação cultural. Uma convenção aceite pelas partes

Por exemplo na ideia de árvore (o conceito que agrega diferentes espécies de vegetais, caracterizados por ter raízes, tronco e folhagens) , o seu significado não está relacionado com a sequência de fonemas ar-vo-re, o seu significante. O som da palavra poderia ser qualquer outro que fosse convencionado para a ideia (conceito). Assim como qualquer outra palavra não se relaciona com o som sem uma convenção socialmente partilhada. O signo é um vínculo aleatório entre um significado e um significante. É esse vínculo que se reproduz na comunicação. A linguagem é uma sequência de vínculos socialmente aceites. Uma língua, é um processo de comunicação de vínculos que representa uma realidade. A realidade é algo que é partilhada por todos e se exprime por signos.

Um língua organiza o conjunto de signos,  relacionando os seus diferentes vínculos com a comunidade que a utiliza. O limite desses vínculos, a sua fronteira é o grupo dos que utilizam essa língua. O sistema de comunicação está pois limitado à relação de uso, de quem é capaz de emitir e receber. Os utilizadores do código, os usuários da língua, necessitam de conhecer e partilhar as significações. Previamente ou no processo. A língua como sistema evolui nessa realação. Quer as palavras, quer os sons, pelo seu uso relacional em contexto vão-se transformado no processo. A linguagem é um processo de correlação entre o acaso e a contingência

Pelo contrário Jacques Lacan defende que a linguagem, emerge na realção entre a mãe e a criança. O som gerado pela vocalização gera ação. O resultado dessa acção é também vocalizado. A presença – ausência, o som e o silêncio são partes dum todo. A conotação do som não-som é o primeiro elemento de uma ordem simbólica, que irá sendo desenvolvida. Para Lacan a vocalização resulta do papel ausência- presença na relação. Sem esse par não existe linguagem. É a partir dessa ordem simbólica se primeira presença-ausência que se constrói a linguagem.

Essa observação de Lacan, introduz na questão da formação da linguagem o elemento dinâmico da transformação. O código da linguagem não é fixo nem absoluto. E não existindo uma ligação entre o significante e o seu significado, as ideias e os conceitos que lesas representam podem deslocar-se, em processo de comunicação, quer para outros sonoridades, quer para outros significados. Ou seja qualquer palavra pode, em função da sua sonoridade e do seu contexto, significar diferentes conceitos, assim como diferente ideias podem em diferentes contextos assumir as mesmas formas. 

Ora fazendo a ligação entre a teoria da linguagem em Sousurre e Lacan e a proposta de Freud, que afirma que o esquecimento e a lembrança  pode ser originário por relações de sons, ou que os conteúdos dos sonhos podem assumir a forma de sons que revelam processos recalcados. O chamado conteúdo latente e o conteúdo manifesto, que aqui se podem distinguir entre a semelhança do som e a verbalização dum conceito ou ideia, são pois uma e mesma manifestação duma representação.  As representações formam-se por duas vias. Seja pela ia pelo som. Entre elas existem relações de contaminação, que permitem que uma influenciem as outras.

Síntese

Saussure, cria o seguinte esquema para representar o signo:

significado                        ou                     ___conceito___

significante                                                imagem acústica

Vejamos a partir do exemplo da ávore de  Saussure para explicar o que é signo.

significado               ou              conceito de árvore

significante                                          arbor

Lacan, propõe duas alterações nesta abordagem. Por um lado, a divisão entre significado e significante  deixa de ser uma divisão, para ser um campo de permeabilidade, onde o significante, que está recalcado, emerge como fluxo de interação. (uma possibilidade de ação que implica uma oposição à significação); enquanto por outro lado a força dessa interação, inverte a relação de Saussure, pois na linguagem com  açção, é a produção de som que vai articular o seu significado. A produção do som a a sua escrita simbólica.

A ordem do discurso e a ordem da escrita relaciona os diferentes significados da cada significante. Ou seja cada palavra só ganha significado em função da sua posição no conjunto, permitindo fixar provisóriamente o movimento de significações dentro da palavra.

Freud e o Inconsciente coletivo

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Freud publica em 1915 o artigo “o inconsciente”, onde retoma uma problemática tratada quinze anos anos, antes, na sua obra “A interpretação dos sonhos”. Neste artigo, que constitui ainda hoje um textos base para analisar a relação entre a Psicanálise e Linguagem,  Freud faz a distinção entre inconsciente descritivo e inconsciente sistemático.

É interessante desta distinção para compreender esta conceito de inconsciente na proposta de psicanálise de Freud. Para Freud Inconsciente descritivo, constitui-se como o conjunto de representações psíquicas latentes na mente. São ideias, emoções, formas simbólicas que podem tornar-se conscientes em qualquer momento, em qualquer contexto, motivados por estados ou experiências pessoais,  Este  consciente descritivo, latente nos indivíduo, capaz de a qualquer momento emergir como consciente é um estado de pré-consciência.

Já no que se refere ao inconsciente sistemático, considera que se tratam de um sistema de representações psíquicas, que se encontram reprimidas no indivíduo. A mente, pelo sistema de interditos, impede essas representações de acederem à consciência. São representações recalcadas.

Verifica-se portanto, que para Freud há dois processos. Um processo em que há representações latentes, que podem emergir como consciência, e há um processo de representações inconscientes, reprimidas, que não emergem como consciência, embora possam manifestar-se por formas recalcadas. A linguagem é uma forma de entender o recalcamento. A consciência para Freud, na sua forma de aparelho psíquico, que inclui as ideias e as percepções, constitui-se pela manifestação destas representações, acessíveis pela linguagem.

Para o trabalho sobre o inconsciente, os objetos recalcados constituem-se como o material de trabalho. Os objetos recalcados são coisas, que se manifestam através da associação de elementos acústicos, táteis, visuais, ou movimentos corporais. A linguagem, a palavra que nomeia é inscrita no psíquico como um complexo de elementos de associação composto por imagens acústicas (sons), imagens visuais (movimento da boca e gestos ou expressões, Os objetos recalcados resultam desta ligação entre os elementos observáveis na linguagem e nas imagens simbólicas. A conformidade entre as representações expressa as forma de adequação ao papel, a consciência do papel e a coação para a representação do papel.

Portanto as associações da coisa, em si, são elementos dissociados que se tornam compreensíveis através das palavras. Quando , os elementos visuais se ligam à imagem acústica (ao som) da palavra. No recalque, nega-se a representação ou a sua  a tradução em palavras. O silencio e o esquecimento são imagens duma representação representação-coisa. Quando a representação-coisa se liga à representação-palavra, tem-se a representação-objeto, capaz de se tornar consciente.

Trabalhar sobre o inconsciente coletivo, é trabalhar sobre os processos de conscientização dos mitos da comunidade.

Consciencia Coletiva e Inconsciencia coletiva em Jung

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Consciente e inconsciente coletivos são identificados na obra de Carl Jung  como opostos primordiais da vida psíquica.

O conceito consciente e inconsciente, refere-se às operações mentais, ao disposítivo estamos a operar com todas as disposições passiveis de obtermos conhecimento. Tendo em vista, que no consciente podemos manter apenas uma pequena parcela dos elementos e conteúdos advindos do inconsciente.

Portanto, o inconsciente engloba todas as disposições pessoais e coletivas disponíveis, mas não relacionada e/ou associadas de forma conhecida pelo ego. “É um conceito-limite psicológico que abrange todos dos conteúdos ou processos psíquicos que não são conscientes, isto é, que não estão relacionados com o eu de modo perceptível.[1]” (JUNG, 2009, § 847).

Havendo aqui a possibilidade de trocas dinâmicas de conteúdos conscientes por conteúdos inconscientes, seja por esquecimento, repressão e/ou desvalorização da importância antes atribuída a um determinado conteúdo. Muito embora, seja importante ressaltar, que eles não desaparecem, podendo ser novamente ativados por estímulos diversos. “Através da experiência sabemos, por exemplo, que conteúdos conscientes podem tornar-se inconscientes por causa da perda de seu valor energético. Sabemos pela experiência que esses conteúdos que estão abaixo do limiar da consciência não desaparecem simplesmente e que, oportunamente, mesmo após decênios, podem emergir das profundezas, verificando-se alguma circunstância favorável como, por exemplo, o sonho, a hipnose, a criptomnésia ou um reavivamento de associações com o conteúdo esquecido.[2] (JUNG, 2009, § 847)”.

Segundo Jung, dentro do inconsciente podemos considerar conteúdos do inconsciente pessoal e inconsciente coletivo. Sendo que, por inconsciente pessoal temos as disposições adquiridas de experiências pessoais, e por inconsciente coletivo as disposições herdadas de um manancial alimentado e pertencente à coletividade. Tudo que vem do inconsciente apresenta característica numinosa, e por ser grandioso e autônomo, não depende do consentimento da consciência para se manifestar. “Podemos distinguir um inconsciente pessoal que engloba todas as aquisições de existências pessoais: o esquecimento, o reprimido, o subliminalmente percebido, pensado e sentido. Ao lado desses conteúdos inconscientes pessoais, há outro conteúdo que não provêm das aquisições pessoais, mas da possibilidade hereditária do funcionamento psíquico em geral, ou seja, da estrutura cerebral herdada. São as conexões mitológicas, os motivos e imagens que podem nascer de novo, a qualquer tempo e lugar, sem tradição ou migração histórica. Denomino este conteúdo de inconsciente coletivo.[3] (JUNG, 2009, § 851)”.