museologia informal

XII CONLAB em Lisboa II

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A Intervenção de Boaventura de Sousa Santos, na abertura do XII Conlab, questiona a questão do revisar, interrogando-se se a organização não pretendiam antes revisitar as ciências sociais.

Assume então esse propósito de revisitar as ciências sociais, ou melhor, os três contextos em que se fazia Ciência Social nos países de lingua portuguesa à 25 anos atrás

O primeiro contexto, o contexto imperial Portugal estava então em trânsito para a Europa, o Brasil em transição para a Democracia e os países africanos a braços com guerra internas. A questão do colonialismo interno também se colocava, sobretudo no Brasil.

Estavam pois diante de vários desafios, o de se inserirem em blocos nos respetivos continentes, sendo que a língua portuguesa era, para cada um deles um fator de isolamento em cada um desses espaço. A comunidade de Língua Portuguesas era então constituída por dois países de desenvolvimento intermédio e os outros, africanos,  periféricos. Timor vivia ainda em situação colonial. O contexto da CPLP era um contexto conturbado que exigia respostas `da Universidades. Recorde-se por exemplo, que nos anos noventa, os Relatórios do Banco Mundial consideravam que era inútil que os novos países africanos gastassem os seus escassos recursos a financiar instituições de Ensino Superior, considerando preferível que a formação ao nível superior fosse feita sobretudo nas universidades do norte

No entanto, as Ciências Sociais nos países de língua portuguesa aproveitaram as vantagens da transição nos diversos países e constituíram-se como uma comunidade, desenvolvendo-se de forma assinalável. Houve no entanto situações complexas. Há por exemplo mais centros no norte a falar sobre África tornando necessário descolonizar o conhecimento sobre África e construir uma ciência sem sentidos pós coloniais.

Em segundo lugar, o contexto do compromisso e da responsabilidade com a sociedade. Por exemplo o projeto Savana, que está a acontecer no centro de Moçambique, em que milhares de camponeses estão a ser deslocados das suas terras para as disponibilizar para o agro-negócio, envolve questões sobre o que é que os cientistas e a ciência podem contribuir para pensar os limites da ciência. Manter a a responsabilidade com a sociedade é uma das questões que está hoje na agenda das ciências Sociais em Língua Portugues

Em terceiro lugar, o desafio da Língua: Hoje a questão da língua constitui-se igualmente como uma reivindicação de um um lugar nas ciências e, em simultâneo um processo de luta contra o neo liberalismo do conhecimento. Isto não é nada de novo na ciência. No século XVI o latim constitui-se como uma língua de conhecimento, uma situação que chegou até tempos bem próximos de nós. As línguas nacionais, tal como já havia acontecido com a publicação da Bíblia em línguas vernáculas, constitui-se como uma plataforma de comunicação que permitiu e extensão do conhecimento. A língua é também se constitui como uma forma de conhecimento

Em síntese, nestes últimos 40 anos, as Ciência Sociais em Língua Portuguesa não se constituíram nem trabalharam temas únicos. Há por decerto algumas tendências. Das transições democráticas, as diferentes formas de guerra, as violências continuam no entanto a constituir um tema central que é necessário pensar.

Uma outra questão que se impões é a necessidade de descolonizar a biblioteca colonial. Nos 40 anos da independências africanas o conhecimento das ciências sociais ainda não incluiu os conhecimento locais e não se colocou, completamente, nos lugares dos colonizados e das vítimas das violências. É necessário intervir na sociedade com a diversidades dos saberes do mundo. É necessário que as agendas procurem o emergente. Procurar a partir dos conhecimentos locais afirmar o possível.

Heranças Globais – Abordagens Contemporâneas no campo patrimonial

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Pequeno texto escrito em 2011, para o Curso de Formação Avançada em Museologia, dado em Santa Catarina, Assomada, Cabo Verde.

As questões da mudança da tradição permanecem como uma problemática do campo dos estudos patrimoniais. Uma mudança interrupta e acelerada caracteriza a globalização neoliberal. Um tempo de consumo de novidades, onde o que hoje é inovação, amanhã é já obsoleto. Um tempo onde o património, hoje inventado, é amanhã reinventado exigindo novas imagens e novos protagonistas comunicacionais. Um tempo onde os agentes do património, afetados por alterações estruturais e organizacionais, sentam-se perdidos e cada vez mais se apegam às velhas fórmulas de trabalho tradicionais. A produção cultural está hoje profundamente ligada aos processos de globalização, incorporando processos comunicacionais de elevada complexidade tecnológica, que tem vindo a alterar a relação entre os cidadãos e os seus objetos patrimoniais. Uma desmaterialização dos objetos que tem produzido um consumo incessante de novos e inovadores objetos que incorporam as novas tecnologia.

Podemos mesmo caracterizar que o atual processo de globalização neoliberal se caracteriza pelo domínio das redes de comunicação e saber. Ao invés do processo de globalização liberal, com base na exploração intensiva dos recursos materiais, seja em espaços europeus seja em espaços coloniais, e na relação de dominação violenta sobre o trabalho, seja ele operário seja trabalho colonial, este processo gera dominações através de instituições multilaterais. Na globalização neoliberal encontramos expressões de poderás característicos dos processos de industrialização, nomeadamente a presença dos Estados Nacionais, com as suas políticas e instrumentos de dominação. A continuidade das hegemonias geradas pelas relações de dominação dos poderes soberanos dos Estados continua a gerar violências que tem como objetivo manter e expandir, essas mesmas dominações. Na globalização neoliberal todas as relações sociais estão envolvidas em processos de dominação. Como todos os processos, estas relações influenciam e são influenciadas por esses processos.

Todas a relações sociais, incluindo a cultura, estão sujeitas à influência do capitalismo. De fato a cultura é igualmente afetada por processos de transformação e ajuda a influencia-los. As forças de produção agem sobre a cultura, mas a cultura também pode ser uma força de produção em si, como demonstram tão poderosamente as indústrias criativas. Isto pode não constitui completamente um fenómeno novo, mas a importância da cultura nos processos de transformação é hoje completamente claro” (LONG & LABALI, 2010, 1)

Quando abordamos o problema das políticas culturais nos tempos da globalização, sobretudo se focarmos os últimos trinta anos, há inúmeros campos que se transformaram, influenciando profundamente a abordagem das políticas culturais publicas. No entanto é cada vez mais evidente que o fenómeno das problemáticas culturais ultrapassou hoje o quadro de intervenção das nações e das políticas nacionais. Os fenómenos culturais são hoje também eles globais. Se as preocupações sobre os bens culturais e a preservação do património se construiu no passado, na necessidade dos Estados preservarem os elementos simbólicos, de os protegerem do comércio ilícito e da destruição provocada pelos fenómenos da guerra; hoje as preocupações sobre os patrimónios, sem dúvida influenciadas pelas políticas da UNESCO, é profundamente influenciada pela visão das heranças globais como processo de interação política e económica. E por via das políticas de globalização dos patrimónios temas como as alterações climáticas e a gestão dos recursos naturais, a pobreza e a violência, o desenvolvimento sustentável com base nas comunidades e nos territórios, a desertificação dos territórios e os movimentos migratórios e os consumos territoriais, tornam-se hoje componentes dos estudos sobre as heranças e patrimónios. As heranças globais é um campo de investigação interdisciplinar.

As heranças patrimoniais representam nos dias de hoje um importante campo de trabalho na afirmação dos direitos humanos. O direito à memória é também um dos direitos fundamentais nas comunidades e nos territórios como recurso para a construção do seu próprio futuro. Ele não pode ser olvidado nas estratégias de desenvolvimento territorial. É todavia necessário não esquecer que muitos dos planos e estratégias de desenvolvimento territorial, incluindo as estratégias de desenvolvimento turístico, propostas como “estratégias de desenvolvimento sustentável” são propostas pera territórios e comunidades que foram e continuam em muito casos a ser vítimas de guerras, de conflitos armados, de pobreza e violência social e instabilidade política. O campo da herança já não é hoje mais um campo onde se trabalha a conservação dos edifícios antigos. É necessário ter uma postura mais ativa no campo das heranças patrimoniais para dar resposta aos novos problemas. Leia o resto deste post »