Lectures / Readings

Sobre a questão da conservação e da inovação nas línguas: o caso africano

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Numa entrevista de Angela Xavier de Ana Cristina Madeira a Elikia M’Bokolo na revista “Cultura” fala-nos da questão das línguas africanas no congo.

A certa altura, na entrevistas afirma sobre a função social do historiador: Durante os meus estudos de História, os verdadeiros professores de História, os realmente bons, como Maurice Agulhon, ou alguém como Pierre Vilar, Jacques Le Goff ou Marc Ferro, eram pessoas que explicavam sempre que o nosso ofício de historiador era, de facto, a apropriação pelo indivíduo de uma aventura colectiva que nos cabia construir e reconstruir e que o complemento desta abordagem era a restituição, daquilo de que nos apropriávamos. Não se faz a História para os pares. Faz-se História para que ela entre no saber social colectivo. Portanto, sem a restituição, para mim não há História. 

Ora segundo M’bokolo esse reconhecimento do saber coletivo implica uma participação ativa. foi esse desejo-o que o levou ao Congo, em 2005, para procurar contribuir para uma solução para o seu país: “Sim, o que fiz, em 2006 e também em 2005, foi participar em todo o debate congolês. O debate sobre o fim da guerra, sobre a paz, sobre o processo eleitoral, trazendo para esse mesmo debate o olhar do historiador. Portanto, uma primeira coisa é isso. Espantando muitas pessoas, eu bati-me pela reactivação da memória; não uma memória arquivada, ou uma memória de museu, mas uma memória viva que desse lugar a um debate. Lumumba, por exemplo, é alguém sobre quem devemos discutir. Não é necessário estarmos de acordo. Mas, quando se concorda que é um objecto sobre o qual todos temos qualquer coisa a dizer, isso torna-se num património. Mas foi difícil porque, por causa de tudo o que se passou nos últimos anos, as pessoas excluem e escolhem. E isso dá-lhes uma memória compartimentada, que acaba por degenerar em práticas de intolerância e de desconhecimento do outro. Depois, durante as eleições foi necessário explicar às pessoas como é que as coisas se passam, o que as leva a votarem ou não, ou que votarem desta maneira ou daquela. Então, a explicação rápida da imprensa, nomeadamente estrangeira, foi: “Tratar-se-á de um voto tribal?” A resposta é não. “Ou é um voto regional?” Mais uma vez a resposta é não. Então o que é que faz com que seja assim? É que há processos nacionais, globais e locais que fazem com que, num mesmo país, haja uma maioria disto ou daquilo. Isso é verdade hoje, mas amanhã não será assim. Portanto, trata-se de restituir estes processos”. 

Ora por outro lado, esse compromisso com a prática conduz a um enriquecimento da visão dos problemas. A uma compreensão a partir do lugar de locução. Isso conduz à questão do discurso sobre as línguas africanas. O problema tem sido abordado pelos intelectuais africanos, aquelas que estudam África: ” (..) quando se diz intelectual africano, está a dizer-se intelectual originário de África. Ora, da maneira mais rigorosa, intelectual africano deveria querer dizer aquele cuja intervenção diz respeito a África.”  e prossegue “Ora, África não existe forçosamente. Um intelectual que contribui para construir essa África, por exemplo, em relação à questão da mundialização, pode dizer, “África”. Mas, essa África não é dada, é um discurso intelectual que vai tentar mostrar como, face ao debate sobre a mundialização, se pode falar de África; nessa altura, mais do que afirmar a sua existência, trata-se de colocar o problema

E se a designação for no sentido de afirmar a existência de um discurso especificamente africano? O discurso produzido pelos intelectuais africanos teria uma determinada especificidade. Aliás, é um pouco isso que diz Paulin Hountondji quando se refere a uma filosofia africana, a um paradigma de pensamento africano. Existirão categorias do discurso que possam ser identificadas como estruturantes de um discurso africano? Isto relaciona-se com outra questão: os estudantes africanos que vão para a Europa e para os Estados Unidos, e que assim optam por uma educação ocidental, são obrigados a expressar-se em línguas que não são as suas, a usar aparelhos conceptuais que são os ocidentais. De que maneira podem fazer passar a sua maneira de pensar? Como é que este imperialismo das línguas deve ser visto?

Esclarecida a questão do objeto do discurso, o espaço de problematização, levanta-se a questão sobre os instrumentos desse discurso. a questão da língua. Deverá a investigação fazer-se na línguas locais ou das línguas de trabalho.

Sobre isso diz M’bokolo “Eu penso que o que define essa africanidade não serão as categorias nas quais se pensa, mas as questões que se colocam. Mas também o facto de o intelectual se dirigir a alguém, o público a que se dirige e os factos que se investigam. Primeiro as questões, depois o público, que portanto determina o compromisso e os factos que se investigam – os factos sobre África ou sobre o que toca a África. Quanto à questão da língua, eu acho que é empolada. Aliás, pergunto-me se essa não será uma questão francófona, porque é verdade que não se constrói o discurso da mesma maneira, dependendo se se fala em tal ou tal língua (…)

E sobre isso explica-se  “(…) Há dois anos o governo congolês tinha decidido proclamar Patrice Lumumba e Laurent Désiré Kabila heróis nacionais. Tomaram a decisão e para isso foi necessário justificar intelectualmente a decisão. Então fez-se apelo aos historiadores. Primeira coisa: a maior parte dos historiadores não respondeu ao apelo, precisamente porque tinha uma concepção de História que é catedrática, universitária: “Essas coisas são política, não são para nós”. Eu fui com um outro colega, e fizemos o nosso discurso em francês. Começa o debate, e uma mulher deputada quer fazer uma intervenção. Começa a falar em francês, mas depois diz que é complicado o que tem para dizer e pede-nos para falar em lingala. “Com certeza, diga”. Bem, ela falou em lingala e era necessário responder-lhe. Então eu respondi em lingala. Mas, num discurso em Nova Iorque ou em Paris, eu não falaria assim. Portanto, eu fiz esta explicação muito longa para explicar em lingala o que é um lieu de mémoire, porque precisamos de um lieu de mémoire e porque é que se faz certa escolha em detrimento de outra. Esta conferência foi difundida em lingala por todo o Congo e a reacção que obtivemos foi fabulosa.”

 

 

 

A Opera Macbeth de Guiseppe Verdi no São Carlos

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macbethA propósito da participação do meu sobrinho Hugo na opera Macbeth de Gioseppe Verdi, assisti ontem a este evento no Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa. Embora vá com alguma frequência ao São Carlos, é justo que se diga, há mais de vinte e tal anos que não ia assistir a uma opera no TNSC. Um local que continua igual a si mesmo, cheio de dourados, com gente aperaltada, que se amontoa nos camarotes, com bilhetes caros. A peça é cantada por um elenco de luxo, acompanhada pela formosa orquestra sinfónica portuguesa.

O original Macbeth é como sabemos uma peça de William Shakespeare, o conhecido dramaturgo inglês que a escreveu nos primeiros anos do século XVII. O texto de Verdi, escrito em 1843, é uma recriação deste texto clássico. Uma recriação recontextualizada à Itália novecentista.

O tema do bem e do mal, ou da ambição e da culpa é como sabemos a questão tratada nesta peça. E esse é uma leitura, que feita para o século XVII inglês, tem um significado. A sua leitura de Verdi, nesta obre tem também um outro significado, que lhe é dado pelo contexto. Ainda outra leitura é feita por nós nesta nossa contemporaneidade, olhando a partir do nosso tempo, sobre esses outros tempos.

Independentemente do contexto há algo que permanece. Que é imutável na ação humana: A culpa.

Unidades e Divisões: Uma nova narativa para a Europa VI

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David_napoleonNão faltaram visões imperiais na Europa. Trágicas aventuras de homens armados com princípios e ideias que reportavam de universais e que mais não era do que vontades de uns povos de subordinar outros.

Napoleão Bonaparte (1769-1821) Imperador dos Franceses, foi uma das personalidades que praticamente consegui colocar a Europa sob o seu domínio, através dum conjunto de campanhas que colocou a Europa a ferro e fogo . imperio_napoleonico

 

 

O Espaço e o Território Europeu : Uma nova Narrativa para a Europa III

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plotomeuO espaço e o território

Para Heródoto, o mundo dividia-se em três partes. Europa (a Trácia), a Ásia e a Líbia (África).

A Europa era delimitada por três rios o Rio Don, o Eufrates, e o Nilo.  A Oeste, as colunas de Gilbratar delimitavam o mar exterior.

 

 

 

 

 

 

 

Heranças Globais – Abordagens Contemporâneas no campo patrimonial

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Pequeno texto escrito em 2011, para o Curso de Formação Avançada em Museologia, dado em Santa Catarina, Assomada, Cabo Verde.

As questões da mudança da tradição permanecem como uma problemática do campo dos estudos patrimoniais. Uma mudança interrupta e acelerada caracteriza a globalização neoliberal. Um tempo de consumo de novidades, onde o que hoje é inovação, amanhã é já obsoleto. Um tempo onde o património, hoje inventado, é amanhã reinventado exigindo novas imagens e novos protagonistas comunicacionais. Um tempo onde os agentes do património, afetados por alterações estruturais e organizacionais, sentam-se perdidos e cada vez mais se apegam às velhas fórmulas de trabalho tradicionais. A produção cultural está hoje profundamente ligada aos processos de globalização, incorporando processos comunicacionais de elevada complexidade tecnológica, que tem vindo a alterar a relação entre os cidadãos e os seus objetos patrimoniais. Uma desmaterialização dos objetos que tem produzido um consumo incessante de novos e inovadores objetos que incorporam as novas tecnologia.

Podemos mesmo caracterizar que o atual processo de globalização neoliberal se caracteriza pelo domínio das redes de comunicação e saber. Ao invés do processo de globalização liberal, com base na exploração intensiva dos recursos materiais, seja em espaços europeus seja em espaços coloniais, e na relação de dominação violenta sobre o trabalho, seja ele operário seja trabalho colonial, este processo gera dominações através de instituições multilaterais. Na globalização neoliberal encontramos expressões de poderás característicos dos processos de industrialização, nomeadamente a presença dos Estados Nacionais, com as suas políticas e instrumentos de dominação. A continuidade das hegemonias geradas pelas relações de dominação dos poderes soberanos dos Estados continua a gerar violências que tem como objetivo manter e expandir, essas mesmas dominações. Na globalização neoliberal todas as relações sociais estão envolvidas em processos de dominação. Como todos os processos, estas relações influenciam e são influenciadas por esses processos.

Todas a relações sociais, incluindo a cultura, estão sujeitas à influência do capitalismo. De fato a cultura é igualmente afetada por processos de transformação e ajuda a influencia-los. As forças de produção agem sobre a cultura, mas a cultura também pode ser uma força de produção em si, como demonstram tão poderosamente as indústrias criativas. Isto pode não constitui completamente um fenómeno novo, mas a importância da cultura nos processos de transformação é hoje completamente claro” (LONG & LABALI, 2010, 1)

Quando abordamos o problema das políticas culturais nos tempos da globalização, sobretudo se focarmos os últimos trinta anos, há inúmeros campos que se transformaram, influenciando profundamente a abordagem das políticas culturais publicas. No entanto é cada vez mais evidente que o fenómeno das problemáticas culturais ultrapassou hoje o quadro de intervenção das nações e das políticas nacionais. Os fenómenos culturais são hoje também eles globais. Se as preocupações sobre os bens culturais e a preservação do património se construiu no passado, na necessidade dos Estados preservarem os elementos simbólicos, de os protegerem do comércio ilícito e da destruição provocada pelos fenómenos da guerra; hoje as preocupações sobre os patrimónios, sem dúvida influenciadas pelas políticas da UNESCO, é profundamente influenciada pela visão das heranças globais como processo de interação política e económica. E por via das políticas de globalização dos patrimónios temas como as alterações climáticas e a gestão dos recursos naturais, a pobreza e a violência, o desenvolvimento sustentável com base nas comunidades e nos territórios, a desertificação dos territórios e os movimentos migratórios e os consumos territoriais, tornam-se hoje componentes dos estudos sobre as heranças e patrimónios. As heranças globais é um campo de investigação interdisciplinar.

As heranças patrimoniais representam nos dias de hoje um importante campo de trabalho na afirmação dos direitos humanos. O direito à memória é também um dos direitos fundamentais nas comunidades e nos territórios como recurso para a construção do seu próprio futuro. Ele não pode ser olvidado nas estratégias de desenvolvimento territorial. É todavia necessário não esquecer que muitos dos planos e estratégias de desenvolvimento territorial, incluindo as estratégias de desenvolvimento turístico, propostas como “estratégias de desenvolvimento sustentável” são propostas pera territórios e comunidades que foram e continuam em muito casos a ser vítimas de guerras, de conflitos armados, de pobreza e violência social e instabilidade política. O campo da herança já não é hoje mais um campo onde se trabalha a conservação dos edifícios antigos. É necessário ter uma postura mais ativa no campo das heranças patrimoniais para dar resposta aos novos problemas. Leia o resto deste post »

Sobre a questão da conservação e da inovação nas línguas: o caso africano III

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Se a Lei Taubira em França vem catalisar o processo de discussão da questão da escravatura.  Isso leva a alterar a forma como as sociedades europeias se estão a olhar. sobre o caso português, sobre a tal especificidade do colonialismos afrirma:

Se há uma especificidade no colonialismo português eu diria que é a seguinte: começou cedo e terminou tarde. Há sempre alguns elementos, isto é, as culturas nacionais em dados momentos interferem no processo de colonização. Mas eu não o creio, porque na minha infância havia muitos angolanos que tinham fugido de Angola para ir para o Congo, e nós achávamos que o Congo, na época dos belgas, era duro. Por conseguinte, se os angolanos fugiam de Angola, era porque havia aí problemas. Esta é a primeira questão. A segunda coisa que é desconcertante é que também havia portugueses que fugiam de Angola para o Congo. E esses portugueses vinham para o Congo, onde a colonização era racista, é claro. Estes portugueses eram considerados pelos Belgas como “petits blancs” e viviam connosco no bairro africano; onde eu vivia havia portugueses ao lado. E de resto no nosso vocabulário em lingala e kikongo muitas palavras que utilizamos vêm do português. Por exemplo, “arroz” diz-se “roso”, “mesa” diz-se “messa”, “vinho” diz-se “vino”, etc. Portanto, alguns grupos de portugueses que estavam em África e que conhecemos em meados do século XX eram pessoas que eu diria que estavam fora da rede colonial, eram homens como todos os outros.”

Catarina Madeira Santos e Ângela Barreto Xavier, « Entrevista a Elikia M’Bokolo »,Cultura, Vol. 24 | 2007, 225-251.

Sobre a questão da conservação e da inovação nas línguas: o caso africano II

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Prosseguindo as questões do postal anterior, sobre os processo de conservação e inovação da Língua M’Bokolo fala da questão da memória. A partir do caso francês, onde os africanos que aí residem são fundamentalmente imigrantes, uma categoria que ultrapassa as classificações sobre os lugares de origem, são abordadas as suas heranças e memórias.

Lembra M’Bokolo, que com o Projeto da rota do Escravo, se tomou uma consciência do fenómeno da escravatura e dos seus resultados para as sociedades africanas. Esse reconhecimento foi todavia, em França, uma memória controvesa. Vejamos como:

Já durante a colonização, os colonizados começaram a viver em França e esse movimento prolongou-se após a colonização; outras pessoas vieram, quer dos departamentos ultramarinos ou dos territórios ultramarinos franceses, quer do antigo império francês, quer de outros territórios africanos. Então isso acabou por trazer grandes problemas porque as pessoas que viviam aqui começaram a colocar-se questões. As crianças iam à escola, e os próprios africanos não percebiam muito bem como é que estavam aqui e as pessoas lhes continuavam a perguntar: “De onde vem, porque está aqui?” E o trabalho da memória foi algo de fabuloso porque entre os africanos se começou a evocar o passado, dizendo: “Estamos aqui por causa da colonização”; enquanto na minha geração se dizia: “Estamos aqui devido a Lumumba e não voltaremos”. E depois as pessoas diziam: “Não ficaremos aqui pouco tempo.” Começou-se a falar da colonização e seguidamente da escravidão; em 1981, quando François Mitterrand tomou o poder, este debate começou em França, mas ao mesmo tempo, nos departamentos ultramarinos; então apercebemo-nos de que as pessoas começavam a falar de escravidão. Aqui, em França, houve muitos problemas porque quem saía dos departamentos ultramarinos, que são procedentes da escravidão, considerava que a França metropolitana e “os africanos” eram identicamente responsáveis pela sua escravidão. Nós, os outros africanos, tentávamos explicar que os africanos entraram na máquina infernal da escravidão, eu diria, obrigados e forçados. Por conseguinte, se se coloca o problema da escravidão, há várias maneiras de o pôr e uma das maneiras de o fazer é a partir, eu diria, das duas extremidades da cadeia: a extremidade que iniciou o processo e a extremidade que beneficiou do processo, deixando entre parênteses os anéis intermédios sobre os quais discutirei mais tarde. Este debate, importante, correspondeu de resto aos debates que tiveram lugar ao mesmo tempo nos Estados Unidos, na América do Sul, nas instituições internacionais, nomeadamente a UNESCO, com o projecto A rota dos escravos. Finalmente, é necessário reconhecer que o meio associativo francês se bateu muito bem, já que de degrau em degrau se chegou ao momento em que um deputado originário da Guiana ousou apresentar um projecto de lei sobre a escravidão. O que se passou como desafio de memória é interessante porque, com efeito, este projecto não foi discutido. Não houve debate, nem sobre a História nem sobre a memória, e assim formou uma maioria para dizer sim à lei. Era uma maneira – como se diz em francês – de botter en touche. Não se discutia e acabava-se com o problema. Então pedimos que, dado que se reconhecera que era um crime e que era necessário repará-lo, a representação do passado da França, isto é, os cursos de História, os cursos de Filosofia, o curso de Literatura, deviam integrar estas dimensões da História. Ora, o combate continuou de maneira sub-reptícia porque este assunto não foi cuidado quem estava contra esta lei; encontrava o meio para responder fazendo votar aí também uma lei que declara que a colonização teve aspectos positivos. Se a colonização teve aspectos positivos, teve-os em relação a quê? positivos em relação ao estado das sociedades africanas antes da colonização? Ora, nós defendemos a ideia de que o estado das sociedades africanas, antes da colonização, se explica em parte pela escravidão. Por conseguinte era uma maneira de apagar esta questão. E sabe que a dinâmica em questão é extremamente interessante. Quando se discutia esta lei sobre a colonização, arderam dois edifícios em Paris, com africanos no seu interior, o que levou a que as pessoas começassem a dizer: “Aí está, temos de facto um problema, um problema de memória, de História, um problema de discriminação”. Os que estão contra nós dizem que queremos fazer o comunitarismo. Ora, nós, que trabalhámos sobre as etnias, sobre as nações, sobre povos, sabemos que os africanos em França não formam uma comunidade, nem de língua, nem de religião, nem de origem, nem de cultura. Formam um todo, na medida em que vieram por serem vítimas de discriminação, uma discriminação memorial e económica. Portanto, para fazer com que não haja comunitarismo, é preciso lutar contra as discriminações. Se nos cursos de História e de Geografia se integrarem as tomadas de posição de Montaigne sobre os indianos e os africanos, em vez de se falar dele apenas como o pensador dos Ensaios, etc., e se em vez de se dizer o Grande Século de Luís XIV, se disser, sim é o Grande século de Luís XIV, mas ele tratou mal os protestantes e os Africanos, etc., não há mais comunitarismo. Este é um combate extremamente apaixonante porque a França está a descobrir que a nação, assim como as etnias, são processos, produções, pode-se mesmo dizer, invenções (risos) e, portanto, podem aí ser injectadas novas questões. Então, estamos a dizer a mesma coisa que para África. O que é que queremos fazer com estas colectividades que aí estão? Desta maneira, damo-nos conta de que a questão da especificidade africana é relativa.”

Um modo simples de fazer o debate sobre a questão da Escravatura. Mas o que isso contribui para o tema do postal, sobre a conservação e inovação das línguas. africanans

Já de seguida veremose